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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Trabalhando a Cultura Afrobrasileira nas escolas


A LEI Nº 10 639, SANCIONADA EM JANEIRO DE 2003 PELO PRESIDENTE LULA, GERA RESULTADOS: MILHARES DE JOVENS NEGROS E BRANCOS ESTÃO APRENDENDO SOBRE A CULTURA E A HISTÓRIA AFRO-BRASILEIRA E A CONVIVER E RESPEITAR AS DIFERENÇAS

POR BRENO DA FONSECA E SILVANA REGINA INÁCIO
CONTAR A HISTÓRIA DO SAMBA, aulas de penteados afros, confecção de roupas para apresentações artísticas, canções de congo, jogos típicos das aldeias africanas, tambores, literatura, receitas de comidas típicas, cartazes sobre animais da savana... As expressões artísticas são das mais livres. Em Juiz de Fora, MG, as irmãs Fernanda, Amanda e Iana, alunas da Escola Municipal José Calil Ahouagi, estavam ansiosas para o recomeço das atividades do projeto “África-Brasil”, que reúne atividades voltadas para a comunidade do bairro Nova Califórnia. Através do teatro, da dança, do artesanato e, principalmente, da criatividade dos alunos da escola, os contos e as lendas africanas ganham novas interpretações. E o papel do negro no Brasil torna-se objeto de discussão.
A responsável pelo projeto é a professora Andréa Borges de Medeiros, diretora da escola há cinco anos. Ela conta que tudo começou em 1999, durante sua pesquisa de mestrado. “A intenção era promover a igualdade. Um dos achados é que as crianças tinham baixa autoestima por conta da não aceitação étnico-racial, o que acabava afetando o desempenho escolar e as relações sociais no colégio”, revela. De um trabalho individual, o “África- Brasil” ganhou novos adeptos: professores, alunos, pais. Todos como membros participantes das atividades culturais promovidas na escola. Num período em que a discussão sobre diversidade está em destaque, a Escola Municipal José Calil Ahouagi, de fato, pode se considerar pioneira neste assunto. Tão pioneira que despertou o interesse de pesquisadores da Universität Siegen, da Alemanha, que visitaram a instituição no primeiro semestre de 2007. Andréa Medeiros ainda esteve entre as três finalistas do Prêmio Nacional “Educar para a Igualdade Racial”, que teve 393 trabalhos inscritos de 23 estados brasileiros. Unanimidade no Centro de Estudos das Relações do Trabalho e da Desigualdade de São Paulo, o primeiro lugar foi concedido para o trabalho da diretora. O reconhecimento à escola ainda se completou com a Medalha Nelson Silva, mérito entregue pela Câmara Municipal de Juiz de Fora para pessoas ou instituições que trabalhem em favor da valorização da cultura negra.

RESPEITANDO A LEI
Muitos alunos já perceberam que grande parte do que a escola lhe ensinou até hoje sobre cultura afro-brasileira era folclore ou clichê. Os livrinhos que não iam além das senzalas e dos navios negreiros foram trocados por literatura, política, arte e história. Está tudo garantido pela Lei nº 10 639. Ela diz que toda instituição de ensino fundamental e médio, público e particular deve incluir o assunto no currículo. Sancionada em janeiro de 2003, a lei vem ganhando força. Os livros didáticos, que existiam são um exemplo crucial disso: omitiam a história negra e restringiam personagens políticos apenas à figura de Zumbi. A lei é base na mudança do imaginário brasileiro.
Para o coordenador da sede nacional da Educafro, Douglas Belchior, a promulgação desta Lei foi um grande avanço do ponto de vista político para o movimento negro. Mas foi muito mais importante para a sociedade. O racismo, o preconceito e a discriminação dirigidos à comunidade afrodescendente foi, durante esses mais de 500 anos, institucionalizado pelo Estado brasileiro. À medida que os poderes constituídos aprovam uma lei dessa natureza, assumem seu erro histórico. Isso por si só já é um avanço. Mas, como estamos no Brasil, é sempre bom lembrar: direito é uma coisa, condição e oportunidade de acesso ao direito é outra. “O trabalho com a história e a cultura afro, se praticado desde cedo, na infância e adolescência, com certeza modificará hábitos viciosos que nos levam à prática e à alimentação cotidiana do racismo. A afirmação de nossa identidade negra, com orgulho e com amor, é um dos maiores ganhos possíveis a partir da prática efetiva desta Lei”, frisa Belchior.

UM MUNDO DE INFORMAÇÕES
Em São Paulo na escola da rede estadual, Professor Benedito Tolosa, que atende 2 200 alunos no ensino fundamental, médio e EJA (supletivo) na zona norte da cidade há dois anos, está sendo desenvolvido o projeto “Afro – Brasilidades – Um Olhar sobre a Comunidade Tolosiana” com atividades ligadas à cultura e história afro-brasileira. O projeto foi desenvolvido pela equipe gestora da escola e visa quebrar os paradigmas e desenvolver boa convivência e respeito entre todos apesar das diferenças. Recentemente foi organizada uma exposição sobre África com os trabalhos realizados em sala de aula pelos alunos com vídeo, dança, música, comida, artes e roupas. Os filhos de Elimar Aparecida da Silva, Layene, 12, e Victor Hugo, 4, participam dos ensaios de dança. Moradora do bairro Dom Bosco, a cozinheira considera o projeto uma grande novidade. “Nunca tinha visto nada assim antes. Acho muito bom os meus filhos participarem porque, ao invés de ficarem na rua, vêm para a escola”, orgulha-se Elimar. O coro é reforçado pela também cozinheira Etelvina Maria Gonçalves Lima, que trabalha na José Calil Ahouagi há 13 anos. “Os meninos ficam o dia inteiro aqui. Às vezes, chegam às 7h30 e só saem às 16h. Até almoçam conosco. Isso é uma novidade.”
Para a professora Sueli Jesus Fanganiello Martins, uma das coordenadoras da exposição, o envolvimento dos alunos é muito grande. “Eles descobrem um mundo de informações desconhecidas e extremante interessantes e importantes. Além do aspecto cultural, percebemos a mudança de comportamento: eles começam a se respeitar e a olhar os colegas negros de uma outra forma”, diz ela. Cerca de 400 alunos com idade entre 13 e 17 anos participaram do projeto. “Procuramos quebrar os paradigmas que o branco é bonito ou que um é melhor que o outro para que os alunos possam conviver bem e aceitar as diferenças. Dentro desse processo, resgatar o orgulho da comunidade negra, a emancipação dos afros-descentes e a autoestima é ponto fundamental. Ao mesmo tempo fazemos com que o branco conheça a verdadeira história e aprenda a ter respeito pelo negro. Com o projeto aqui na escola, conseguindo amenizar os conflitos étnicos raciais”, afirma o diretor da escola Antônio Sérgio dos Santos Gutierrez.
A CONTRIBUIÇÃO DOS AFRICANOS
Jessie Valeska de Brito e Silva, de 13 anos, concorda. A aluna da 7º série está adorando conhecer mais sobre a história e cultura negra. “Estou aprendendo e entendo coisas que apesar de ser negra não sabia. Ninguém tinha me explicado até hoje. Sempre fui muito tímida, mas depois do início desse projeto comecei a me soltar mais. As pessoas começaram a conversar comigo, a me questionar sobre o preconceito e vários outros assuntos.
Para mim está sendo ótimo, consegui evoluir muito. Depois dessa experiência, tenho certeza que vou encarar a situação sem medo”, conta a estudante.
Kabengele Munanga, titular do departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo e Diretor do Centro de Estudos Africanos, acredita que a lei é um avanço notável para o Brasil em geral e para a população negra em especial. Pela Lei, reconheceu- se oficialmente a contribuição dos africanos e de seus descendentes na construção da sociedade brasileira, não apenas com trabalho escravizado, mas também e principalmente na construção da economia colonial do país, no povoamento do seu território, na construção de sua cultura e de sua identidade nacional. “Reconheceu- se a identidade negra no universo das identidades étnicas que compõem a identidade nacional plural. A maneira mais nobre de reconhecer a história de um dos segmentos étnicos que formam o Brasil é ensinar essa história aos jovens brasileiros, futuros responsáveis pelo país.”
Só no estado de São Paulo existem 5.400 escolas e 5 milhões de alunos. Dados do censo escolar de 2006, feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) mostra que cerca de 19 milhões dos alunos do ensino fundamental e do médio se declaram pretos ou pardos. De acordo com Maria Margarete Santos, coordenadora de Estudos e Normas Pedagógicas da Secretária do Estado de São Paulo, todas as escolas do estado estão com o currículo oficial dentro das especificações da lei São Paulo: Educando pela diferença para a igualdade, parceria da SEE com a Universidade federal de São Carlos (UFSCar) que está formando e informando os professores. “No primeiro semestre de 2006, terminou o curso de capacitação. Existe também uma capacitação de geografia africana e afro-brasileira, ministrada pelo Prof. Dr. Rafael Zanzio dos Santos, da Universidade Federal de Brasília.
O AVANÇO DA LEI
Segundo o advogado Renato Ferreira, do Laboratório de Políticas Públicas - UERJ e coordenador do Programa Políticas da Cor, existem uma discussão e trabalhos pontuais de capacitação. Muitos professores querem se capacitar, mas não existe uma política pública nesse sentido. “A lei é um avanço significativo por duas questões: ela permite que um assunto de tamanha relevância seja tratado da forma que merece. É o reconhecimento do estado brasileiro da necessidade de implementação de políticas afirmativas para promover a igualdade racial. A lei não é boa só para o negro, ela é uma ferramenta para promoção da diversidade como um valor nacional.
Num país plural como o nosso isso só nós obriga a não permitir que a educação seja dada somente pela matriz europeia. Essa lei está pelo menos 100 anos atrasada”, ele frisa.

O Dia da Consciência Negra

O que é o Dia da Consciência Negra? Celebrado no dia 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra homenageia e resgata as negras raízes do povo brasileiro. Escolhido por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, ele é dedicado à reflexão sobre presença do negro na sociedade brasileira. "O Dia da Consciência Negra sinaliza a ideia do marco, marca o valor da conquista da liberdade deste grupo", explica Roseli Fischmann, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Metodista, de São Bernardo do Campo, na região metropolitana da capital paulista.
O dia da Consciência Negra também põe em pauta a importância de discutir a temática negra na escola. A inclusão de assuntos ligados à África e ao povo negro na educação formal é uma das estratégias para reconhecer a presença desse grupo na história do Brasil - os negros correspondem a 6,8% da população brasileira segundo o IBGE, mas os chamados "pardos" chegam a um número próximo da metade da população brasileira. Não à toa, escolas e instituições diversas já reconhecem a importância de trabalhar a cultura negra em seu dia a dia.
Hoje, a lei brasileira obriga as escolas a ensinarem temas relativos à história dos povos africanos em seu currículo. Além disso, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) estabelecem que a diversidade cultural do país deve ser trabalhada no âmbito escolar. "A sociedade em que vivemos valoriza outro estereótipo, o que resulta na invisibilização do negro. Isso tem um efeito bastante perverso: as crianças negras nunca se vêm e o que elas olham é sempre diferente delas", explica Roseli, que coordenou o grupo responsável pelo documento sobre Pluralidade Cultural nos PCNs. "A pluralidade cultural é um tema que pode ser abordado de forma transversal, em várias disciplinas", conclui. Estratégias simples, como a introdução de bonecas negras, podem ter um efeito positivo para reforçar a identificação cultural dos alunos negros. "Revelar a África pela própria visão africana também surte efeito. O continente produz cultura, histórias e mitologia, o que a perspectiva eurocêntrica não nos deixa ver", diz Oswaldo de Oliveira Santos Junior, pesquisador do Núcleo de Educação em Direitos Humanos da Universidade Metodista de São Paulo. 

Zumbi, esse desconhecido
Ninguém sabe detalhes da vida do último e mais importante líder do Quilombo dos Palmares

Reportagem Reinaldo Lopes
O nome dele era Zumbi, mas talvez o certo fosse Zambi. Ele pode ter nascido na África e ter sido trazido para cá à força, mas há quem diga que ele era brasileiro e livre. Nem temos certeza de que ele era filho de africanos – se ele nasceu no Brasil, é possível que seu pai fosse africano e sua mãe, índia. Sua morte também é envolta em mistério. Só não existem dúvidas a respeito de uma coisa: até seus adversários o definiam como um homem forte, orgulhoso, inconformado com sua condição social, que resolveu enfrentar seus algozes e libertar seu povo. E ele foi longe nesse objetivo. O Quilombo dos Palmares deu trabalho ao governo de Portugal.
O quilombo foi construído na serra da Barriga, uma área que hoje faz parte do estado de Alagoas. O terreno era uma espécie de fortaleza natural: tinha barrancos que dificultavam o acesso e palmeiras fazendo uma espécie de muralha. Palmares surgiu por volta de 1580, quando escravos que fugiam de Pernambuco e da Bahia construíram uma pequena vila fortificada, onde eles podiam ser livres e estavam protegidos dos soldados que capturavam e matavam os fugitivos dos engenhos de cana-de-açúcar do litoral. No auge da ocupação, em 1670, o quilombo teria chegado a 30 mil moradores – talvez esse número seja um exagero. Mesmo depois da morte de Ganga-Zumba e de Zumbi, seus dois maiores líderes, os escravos ainda resistiram até o ano de 1710.
Se os criadores do quilombo realmente vieram de um engenho, a grande maioria deveria ser homem, pois as fazendas abrigavam poucas mulheres. Talvez por isso, já nos primeiros anos de organização, o aglomerado de fugitivos virou uma pedra no sapato dos portugueses. Volta e meia, os habitantes de Palmares invadiam engenhos para libertar escravos, roubar comida e armas e, principalmente, raptar mulheres. Em 1602, o governador-geral do Brasil, Diogo Botelho, mandou uma expedição contra eles. Foi a primeira das mais de 40 missões de ataque. Era difícil vencer os escravos porque, quando as tropas chegavam, eles abandonavam a cidade e se escondiam no mato.
Quando os holandeses invadiram o Nordeste, os engenhos de açúcar perderam o controle sobre seus escravos e as fugas aumentaram. Palmares recebeu milhares de novos moradores e, em 1654, quando os holandeses foram expulsos, a vila tinha virado uma potência formada por vários aglomerados populacionais, que vendiam e compravam produtos das cidades vizinhas. Nessa fase, pode ser que até brancos tenham vivido dentro do quilombo. E com certeza havia índios morando lá dentro ou por perto. Escavações arqueológicas têm encontrado cerâmica indígena, provavelmente da mesma época de Zumbi.

Crescimento
Essa confederação de povoados escolheu como chefe um guerreiro conhecido como Ganga-Zumba, que morava em Macaco, a principal vila do refúgio. Não se sabe se “Ganga-Zumba” seria nome próprio ou um título dado ao líder. “A palavra ganga significava ‘poder’ ou ‘sacerdote’ em várias sociedades da África central”, diz o historiador Flávio Gomes, professor do Departamento de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Para a maioria dos especialistas, foi nessa época de relativa calmaria que Zumbi teria crescido em Palmares. Um dos motivos para sustentar que o líder nasceu ali mesmo e não chegou depois, fugindo da escravidão, é o fato de que ele seria sobrinho de Ganga-Zumba. Mas o parentesco também não é garantido, já que a palavra “sobrinho” podia ter um sentido simbólico.
Não há relatos confiáveis sobre a juventude de Zumbi. É em um relatório do comando militar da capitania de Pernambuco, escrito por volta de 1670, que seu nome aparece citado pela primeira vez. Ele seria o homem de confiança do chefe Ganga-Zumba, uma espécie de general dos exércitos de Palmares. Outros documentos da mesma época destacam a capacidade militar de Zumbi. Um deles diz que, ao enfrentar uma expedição liderada por Manuel Lopes Galvão, Zumbi levou um tiro na perna que o teria deixado manco, mas ele continuou lutando mesmo assim.

Missões de ataque
Por volta de 1670, matar Ganga-Zumba e Zumbi virou questão de honra para o governo português. Mas, em 1678, a raiva já tinha passado um pouco. Cansado das derrotas seguidas, o governador-geral propôs um acordo de paz. Ganga-Zumba aceitou, e deixou Palmares com algumas centenas de seguidores. Ele morreu pouco tempo depois, e há quem diga que foi Zumbi que mandou envenená-lo por ter abandonado seu povo. O novo líder do quilombo não quis saber de trégua. Em 1690, o governo enviou o bandeirante Domingos Jorge Velho para atacar a região. Apanhou na primeira tentativa, mas voltou em 1692, com 9 mil homens e alguns canhões. Depois de semanas de luta, os bandeirantes invadiram a capital de Palmares. Zumbi fugiu. Ele só viveria mais um ano, até ser traído e morto por um companheiro, Antônio Soares. Os bandeirantes deram ao corpo de Zumbi o destino de várias outras pessoas que na época eram consideradas traidoras da pátria. Seus olhos foram arrancados, sua mão direita foi cortada e seu pênis foi decepado e enfiado em sua própria boca. Já a cabeça foi salgada e levada para Recife, onde apodreceu em praça pública.

 A lenda do suicídio coletivo
Logo depois de se aproximar de Zumbi e cumprimentá-lo, o traidor Antônio Soares o matou com uma punhalada. É assim que os historiadores acreditam que o líder dos Palmares foi assassinado. Mas, antigamente, existia uma outra explicação, bem mais dramática. “Até o início dos anos 60, os historiadores diziam que Zumbi e seus seguidores tinham cometido suicídio ao se atirar dos penhascos da serra da Barriga”, diz o historiador Flávio Gomes. Não é verdade, mas essa lenda pode ter surgido por causa de uma das últimas batalhas da guerra de resistência. O bandeirante Jorge Velho construiu uma muralha de apoio, em diagonal, para levar seus canhões para perto do quilombo. A única forma de atacá-la era subir por um barranco. Alguns quilombolas tentaram usar essa estratégia para fazer um ataque-surpresa contra o bandeirante. Quem era baleado rolava pelo barranco, o que pode ter dado a falsa impressão de suicídio.

Saiba mais
• A Hidra e os Pântanos, Flávio Gomes, Unesp, 2005. Compara os quilombos do Brasil com outros grupos de rebeldes em outros países do continente
• Palmares, Ontem e Hoje, Pedro Paulo Funari e Aline V. de Carvalho, Jorge Zahar, 2005. Ótima introdução à história do quilombo. O professor Funari trabalhou nas primeiras escavações feitas no local
Projeto Cultural - Um Olhar Negro

     Tratar da importância e valorização da cultura negra dentro da escola, criando espaços para manifestações artísticas que proporcionem reflexão crítica da realidade e afirmação positiva dos valores culturais negros pertencentes a nossa sociedade é o que propõe o projeto

Um olhar negro

     Na escola, valores sociais e morais são reforçados e também é nela que muitos preconceitos são perpetuados de forma quase imperceptível. Portanto é também na escola que se deve propiciar a reflexão crítica sobre esses valores.

     A escola sempre pintou a África pobre, sem histórias próprias, com uma população subalterna, sem-cultura e escravizada. Precisamos urgentemente reverter esse quadro. E esse projeto pedagógico surge para tentar tirar do anonimato a verdadeira história da África e de seu povo, bem como abrir um leque de discussões em torno da diversidade cultural existente em nosso país, a fim de que essa diversidade seja respeitada e valorizada.

     Assim, dentro da proposta de trabalhar na escola a valorização da cultura afro-brasileira, a realização de um projeto que busca promover um espaço cultural para trabalhar expressões da arte e cultura negra, desenvolvendo atividades variadas que são abordadas:
  - A Capoeira e sua importância - através de demonstrações coreográficas de grupos locais;
  - A musicalidade de contextualização negra - com a participação de cantores amadores da escola e do município, com repertório de raízes;
  - As coreografias fundamentadas nas raízes negras - com a participação de grupos locais;
  - A teatralidade interpretativa de textos da cultura africana - monólogos, poesias etc.
  - A beleza negra - com a realização de um desfile para escolha da Beleza Negra do município.
     A elaboração e desenvolvimento desse projeto de arte e cultura negra visam a atender dois pré-requisitos básicos: o exercício da cidadania e vivência dos valores através da apropriação da arte e da cultura, como ferramentas necessárias para estar num mundo formado por sociedades que usam o preconceito como instrumento das esferas de diferenças sociais e, ainda, o resgate da herança africana, cuja história fora esquecida e ignorada ao longo do tempo.
     O projeto tem por objetivo favorecer o desenvolvimento da expressão corporal, oral e cultural dos alunos, através de momentos de interpretação (monólogos), coreografias, músicas, Capoeira, poesias e a valorização estética negra, para a ampliação dos conhecimentos e formação de hábitos e atitudes fundamentais nos valores éticos. Propõe-se, ainda, dar a conhecer, através de demonstrações culturais e de atividades teatrais e de interpretação alguns aspectos importantes do contexto da escravidão negra, ressaltando os valores que impulsionaram e orientaram a sua vida e a formação de sua identidade. Com este conhecimento, vivenciar e valorizar a cultura negra através da música e da pintura como forma de identificação e resgate da autoestima do aluno afrodescendente. Através de atividades artísticas, busca-se desenvolver ações transformadoras, projetando o respeito como prática fundamental e essencial para mudar as pessoas e, consequentemente, a sociedade.

Contribuição do professor Genivaldo Pereira dos Santos - Floresta Azul BA.

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